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Daphne Du Maurier: Rebecca (1976) 4 stars

Rebecca is a 1938 Gothic novel written by English author Daphne du Maurier. The novel …

Review of 'Rebecca' on 'Goodreads'

5 stars

Uma simples frase abre o romance, como se fosse o próprio portão de Manderley que se abrisse para o leitor:
"Last night I dreamt I went to Manderley again".
Foi difícil para mim compreender aquele primeiro capítulo inicial: todo ele a descrição de um sonho, a revisitação de um lugar, o porquê da impossibilidade dos personagens em lá voltarem, as saudades que dele tinham. É preciso ler todo o "Rebecca", até mesmo à última folha, para perceber o porquê. Uma coisa eu já tinha certeza antes ainda de o ter acabado: estava a ler um dos melhores livros que tinha lido até ao momento. A escrita de Daphne du Maurier é muito boa, envolvente, rica e facilita a visualização dos lugares e situações.
O livro é narrado por uma jovem que depressa se percebe que é insegura, jovem e algo inexperiente. É, no geral, uma pessoa inteligente mas introvertida que consegue cativar Max de Winter, que a pede em casamento. Todos os capítulos até à chegada a mansão após o casamento e lua-de-mel parecem como um enorme prelúdio: fala-se em Manderley, fala-se em Rebecca, na sua vida e morte, mas tudo parece ser algo distante e despreocupado.
O momento chave de entrada em Manderley acontece quando a jovem conhece Mrs Danvers:

"Someone advanced from the sea of faces, someone tall and gaunt, dressed in deep black, whose prominent cheek-bones and great, hollow eyes gave her a skull's face, parchment-white, set on a skeleton's frame. She came towards me, and I held out my hand, envying her for her dignity and her composure; but when she took my hand hers was limp and heavy, deathly cold, and it lay in mine like a lifeless thing. 'This is Mrs Danvers,' said Maxim, and she began to speak, still leaving that dead hand in mine, her hollow eyes never leaving my eyes, so that my own wavered and would not meet hers, and as they did so her hand moved in mine, the life returned to it, and I was aware of a sensation of discomfort and of shame."

O mais interessante é as reviravoltas inesperadas: a narrativa desenrola-se de uma forma algo devagar, serena, contemplativa e, subitamente, o inesperado acontece. Uma revelação, um evento e a história mudava subitamente de rumo, aquilo que parecia acontecer não acontecia, o improvável revelava-se. Até ao fim, até à última página.
Pessoalmente gostei muito mais dos personagens secundários do que dos principais: a jovem narradora com as suas inseguranças consegue ser extenuante (apesar de ser eficaz para a criação de suspense) e o Max de Winter consegue ser detestável durante 99,9% da história. Até da própria Rebecca gostei, personagem que apenas conhecemos através da memória dos outros. É no entanto a Mrs Danvers a figura mais enigmática e interessante de todo o livro, uma das vilãs que mais arrepios me provocou até hoje.
Quando terminei a leitura deste livro procurei saber um pouco mais sobre a escritora e foi interessante descobrir os eventos da vida real da escritora que a levaram a escrever "Rebecca". Toda a história ganhou uma nova dimensão perante os meus olhos: o porquê da narradora ser uma jovem ingénua e mais jovem que o marido, o fantasma da mulher anterior, as comparações na boca das pessoas. Quanto mais semanas passam depois de terminada a leitura de "Rebecca" mais percebo a sua complexidade e a quantidade de temas e sentimentos complexos abordados na obra. Este livro não é apenas um thriller ou um mistério para resolver: é um caminho para a maturidade, para a confiança e amor no casamento e para a descoberta de uma identidade própria e confiança em si mesmo.